domingo, 21 de agosto de 2011

L'attente de l'amour


— Pequena, como conseguiste?
— Como consegui o quê?
— Ter me esperado por tanto tempo. Sentada. Quase deitada. 
— E eu te esperarei para sempre, porque é isso que se faz quando o que sente é mais forte que o tempo. Te escrevi isto uma vez, não te lembras?
— Lembro perfeitamente bem… nem sei quantas vezes li as mesmas palavras. Parecia sempre pela primeira vez, entendes? Como se a cada vez que eu lesse de novo, encontrasse uma nova interpretação. Aquela carta é quase um filme cult que ninguém consegue interpretar.
— Era muito fácil…
— O quê? Te entender? Sem essa para cima de mim. Se no começo tu dizias que sentia saudades de nossas risadas, no final já estavas te declarando para mim e ainda encerrava com um e-isso-é-como-amiga. Se fosse, não te darias o trabalho de me lembrar disto.
— Tu eras mais complicado. Trazias-me um drama a mais. Acho que por isso eu consegui te esperar durante tanto tempo.
— Dois anos…
— Dois anos beijando outros moços e pensando em ti. Abraçando outros quando, na verdade, eram os teus braços que eu queria envolvendo minha cintura. Sentindo outros perfumes quando era o teu que eu queria que ficasse em meu vestido. Olhando para outros olhos desbotados quando os teus coloridos eram os únicos que eu desejava ver antes de dormir e ao acordar. Dois longos anos de tortura, meu amor…
— Diga-me, minha pequena, como conseguiste… eu não sei se conseguiria, já teria endoidecido.
— E eu quase enlouqueci, meu menino, se fosse assim tão sensível quanto ti… estaria numa camisa de forças sobrevivendo à base de morfina.
— Sempre exagerada…
 Sempre louca por ti.
— Foi difícil para ti?
— Existiram dias em que eu não conseguia ler um livro, escutar uma música ou assistir a algum filme sem me perguntar, a cada cinco minutos, onde tu estavas e o que estarias fazendo naquele momento. Questionando-me se eu discava o teu número ou se te deixava sentir minha falta. Tendo como escape algumas saídas que me faziam voltar de maquiagem borrada e estômago enjoado por estar vazia e sem tiQuerendo uma única pessoa enquanto estava rodeada de mais vinte…
— E o que te sustentou nesses dias?
— Teus olhos. Eu me lembrava deles e tudo sumia. Logo reconsiderava a ideia de te esperar por mais algumas eternidades até que todos os outros fossem apenas outros e nosso amor fosse o suficiente.
— Por que me amas, guria?
— Por que sempre precisas de um porquê?
— Estás precisando de um agora.
— Não existe um porquê. Isso é quase como descobrir a cura para a AIDS ou outra doença pior ou… teu toque. Sempre foste o único que conseguias me arrepiar por um breve contato de peles e deixar as minhas mãos mais geladas do que já o são. Tuas implicâncias; no meio de uma briga tu me fazias confessar as três palavrinhas e logo depois te calavas. Teus ciúmes, não aguentavas me ver com outro menino, nem que esse menino fosse um colega qualquer de classe.Teus cabelos sempre foram os únicos que me despertavam vontade de acariciar até que tua respiração ficasse pesada no meu peito e logo tu estivesses dormindo. Tua maneira de ver o mundo, de observar as pessoas, de querer mudar a sociedade, de conseguir me puxar do chão quando eu estava caindo lentamente e quase ninguém percebia, de me fazer gargalhar até que os demais ao nosso redor nos censurassem, de sussurrar ao meu ouvido palavras loucas quando não estavas em sã consciência, de enxergar quem eu era sem que eu te falasse, de citar as frases que eu punha naquela carta e aquilo era tão sexy que mal imaginas, meu bem, de conseguir transformar um coração de pedra em um coração quente e clemente por amor,de conseguir mostrar teu eu para mim, de tentar me conquistar com cantadas baratas no entanto mal sabias tu naquela época que já havias me conquistado ao cruzar teu olhar com o meu. Garoto, teus olhos… o maior mistério que eu já tentei desvendar e nunca tive o prazer de conseguir. O que eu posso afirmar sobre eles é que me trazem uma vontade de me acolher no teu peito para sempre, tu entendes, anjo meu? Existem tantos outros motivos, mas estes já são suficientes… gastar amor de uma vez só não é certo.
— Esqueceste de comentar sobre meus beijos.
— Sobre o tempo que demoraste para ter a coragem de me beijar enão apenas tentar descobrir como eu beijava pelo modo como mordia a caneta?! Sério?!
— Eu nunca deveria ter te dito isso.
— Sempre soube, amorzinho.
— Menina irritante.
— Esse é outro motivo. Consegues me levar da raiva à vontade de dormir abraçada contigo em dois segundos.
— Vai ser sempre assim, minha menina, tu vais me dizer o porquê de tudo já que sempre foste a única a ter uma paciência divina comigo e vais saber como fazer este meu coração disparar em dois segundos… Eu também te esperei, meu amor, por todo esse tempo. Deveriam ensinar aos adolescentes de hoje em dia queprender um amor no peito é quase suicídio, principalmente quando todos os indícios levam a crer que é para sempre. Acho que estou com vontade de te inspirar para que escrevas mais uma daquelas cartas que aconselham os outros a admitirem seus sentimentos…como eu conseguiria inspirá-la, linda?
 Olhar para mim é o suficiente…